Em meio à pandemia do Covid-19, quarentena, instabilidades políticas das mais diversas, o embate entre o ex- Ministro Sérgio Moro e o presidente Jair Bolsonaro, uma noticia acabou passando despercebida por grande parte da mídia e mesmo das pessoas: o fim das conversações para a formação de uma joint venture entre Boeing e Embraer, anunciada dia 24 de abril último.
No mercado, os boatos sobre entendimentos entre Boeing e Embraer remontam de 2017 e em 5 de julho de 2018 foi assinado um memorando de entendimento entre as duas empresas no sentido de desenvolver a parceria no segmento de aviões comerciais, ficando a parte de aeronaves executivas e militares da empresa brasileira fora do acordo. Apesar dessas exclusões o memorando previa a possibilidade de formação de uma segunda joint venture no sentido de comercializar o cargueiro C-390 Millenium.
O controle da joint venture seria exercido pela Boeing, que pagaria US$ 4,2 bilhões para deter 80% das operações, conforme Acordo Global de Operações firmado em 17 de dezembro de 2018.
No dia 24 de abril p.p, no entanto, a Boeing, de maneira unilateral, rompeu entendimentos com a empresa brasileira alegando “condições do contrato que não foram atendidas”, conforme comunicado da empresa à imprensa.
Do seu lado, a Embraer se defende argumentando que a empresa americana violou de modo sistemático o Acordo Global de Operações “devido à falta de vontade em concluir a transação, à sua condição financeira, ao 737 MAX e outros problemas comerciais e de reputação.”, conforme press release da Embraer.
NOTÍCIA BOA OU RUIM? DEPENDE
A notícia da venda do grosso (80%) das atividades industriais da Embraer para a Boeing foi mal recebida pelos brasileiros — um choque mesmo — que tinham profunda admiração e orgulho de nossa notável fabricante de aviões de presença global. Algo como entregar para uma empresa estrangeira o que temos de melhor era uma visão improvável ou mesmo impossível de acontecer. Mas quem tinha tino comercial viu nessa operação uma excelente oportunidade para Embraer se capitalizar com a transação — US$ 4,2 bilhões não é de se jogar fora — e continuar no ramo fabricando aviões executivos e militares.
Quando a Boeing, combalida pelo problemão do 737 MAX, mais a parada da indústria do transporte aéreo desde fevereiro, cancelou a operação sem aviso prévio no último dia 24, aqueles que tiveram o choque do anúncio há três anos sentiram um grande alívio. Afinal, é ruim perder coisas nossas, como foi a venda da TAM para a Lan Chile há dez anos. Oxalá a Lan Chile tivesse precedido a Boeing na desistência.
BS
Independentemente dos reais motivos que levaram a esse rompimento, muitas questões estão em jogo e infelizmente o cenário não é dos mais serenos.
De um lado tem-se a Boeing assolada com o problema do 737 MAX, comemorando (de maneira triste) um ano retido em solo. Cancelamento de pedidos já estavam ocorrendo mesmo antes da questão da pandemia tomar conta dos noticiários globais bem como a imposição de quarentenas, o que praticamente aniquilou a indústria do transporte aéreo.

Do outro lado, o promissor projeto do E2 da Embrarer (e suas belíssimas asas de gaivota) não tem sido tão bem-sucedido como se esperava. As vendas do modelo vêm se dando de maneira lenta devido à concorrência do Comac C919, Mitsubishi Regional Jet, o Sukhoi Superjet 100 e o próprio Bombardier C-Series, projeto este incorporado e vendido pelo Consórcio Airbus como A220. Contribui para tal, segundo informações de bastidores, os sistemáticos problemas nos motores Pratt & Whitney PW1700G/1900G, motorização exclusiva da aeronave brasileira.
E agora como cenário, a retração na economia global, fruto da pandemia do novo Coronavírus, diferentemente de todas as crises já vistas, tem-se queda de preços de todos os ativos inclusive no preço do petróleo, que no ultimo dia 20 de abril chegou a US$37,63 negativo o barril, fato inédito na história, o que diferentemente do 11 de Setembro, onde o horizonte de preços de petróleo era ascendente e por consequência, a demanda por aeronaves mais eficientes idem, hoje temos recessão, muitas aeronaves seminovas sendo encostadas e uma recuperação da economia pós-Covid dividindo opiniões.
Resta aguardar e ver o que acontecerá. Entretanto o céu para os fabricantes está muito longe de ser de brigadeiro…
DA